segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Entrevista: Ian Mackaye


Esta entrevista foi realizada em 1994 quando ele esteve no Brasil com a banda Fugazi, e saiu originalmente na revista Panacea nº 36, foi feita pela Gabriela Dias e contou com participação de alguns fanzineiros importantes da época.
Pra quem não sabe Ian Mackaye foi quem começou com essa historia toda de Straight Edge... 
A entrevista era dividida em partes (como temas), estou postando aqui apenas a parte da entrevista em que Ian Mackaye fala sobre o Straight Edge. É bem interessante...
(O link com a entrevista completa segue no final dessa postagem).


(STRAIGHT EDGE)

G: O hardcore é um estilo musical ou um modo de vida?



I. Mackaye: Eu não sei o que é hardcore. Digamos que há uma série de portas e uma linha de tempo. Na primeira porta está escrito new wave; na segunda, punk; na terceira, hardcore; na quarta, alternativo, e depois, independente. São portas diferentes de tempos diferentes, mas que dão mais ou menos no mesmo lugar. Entro pela do punk. O hardcore é uma porta que veio depois. Sou um punk rocker. Mas talvez seja a mesma coisa. Não sei. Talvez vocês achem que punk é Sex Pistols. Mas pra mim é Patti Smith, Stooges, MC5… E também é Black Flag! Minor Threat era punk, não hardcore!

G: E a violência? Skinheads etc.

I. Mackaye: Não faz sentido. Em 81, quando começamos, havia tanta violência no punk… Sei do que estou falando, porque eu costumava brigar muito.

G: Está melhor agora?

I. Mackaye: Sim. Menos brigas.

G: Diz-se que você criou o straight edge, um movimento muito ativo hoje em dia…

I. Mackaye: [interrompendo] O que é isso? O que eles fazem?

G: Muitas bandas, zines…

I. Mackaye: Ok. [risos] Já respondi essa pergunta milhares de vezes, mas estou pronto. Você está?

G: Sim.

I. Mackaye: Em 1980, estava no Minor Threat. Escrevi uma canção chamada “Straight edge”, sobre um garoto que não bebe álcool, não se droga, não fuma, e se sente pressionado por causa disso. Sou esse garoto. Escrevi uma música sobre a minha vida? Descobri que havia muitas pessoas que concordavam comigo. Outras diziam: “Vá se foder, Adolf Hitler! Idiota!” Se você ler a letra, verá que não digo “não faça”. As pessoas acharam que eu estava tentando criar um movimento. E eu: “Isto não é um movimento, é apenas uma canção.” Não fez diferença. É 1994, e você está perguntando a mesma coisa.

G: Talvez porque as pessoas continuem te vendo como um líder.

I. Mackaye: Mas não posso fazer nada! O que aconteceu é que surgiram outras bandas que gostavam daquilo. A coisa se deturpou. Existem dados estranhos: muitos dos garotos que entraram no straight edge são de famílias fortemente católicas. É mais ou menos o que acontece também com o Shelter. [Banda de hardcore ligada ao Hare Krishna]

G: O crossover (junção) religião e hardcore não funciona?

I. Mackaye: Pra eles, acho que funciona. Pessoalmente, não endosso nenhuma religião. Mas não tenho regras. Sou só um ser humano. Acredito que é natural o ser humano fazer coisas boas, e é por isso que fazemos benefits [shows para arrecadar fundos para alguma causa]. Não se tem que ter religião para ser consciente. Tem gente que diz: “Por que o Fugazi faz as coisas assim? Deve ter motivação política ou religiosa.” Não. Somos quem somos. O Fugazi sou eu, Guy, Brendan e Joe. Os quatro decidem. É nossa banda, gerando nosso dinheiro, sem nada por trás. Fazemos o que queremos.

G: E o que você acha quando dizem que o straight edge é de direita, porque “combate” as mesmas coisas que o governo americano: drogas, álcool etc?

I. Mackaye: Essa é a maior besteira que já ouvi na vida. Quem acredita nisso é burro, porque realmente acredita que o governo dos EUA é contra as drogas. Todo mundo sabe que ele é totalmente envolvido com o tráfico de cocaína, o crack etc, via CIA. Acho que as drogas deveriam ser legalizadas. É absurdo que a maconha seja proibida. A idéia de que governos como o dos EUA estão gastando dinheiro para prender gente que fuma maconha me dá nojo. Mas também acho que fumar maconha é idiotice. É o que digo: ser você mesmo já é suficiente.

G: Você já ficou doidão?

I. Mackaye: Não. Nunca fumei maconha. Já fiquei bêbado, aos 12, 15 anos. Depois, nunca mais bebi.

G: Nunca fumou cigarro?

I. Mackaye: [enojado] Não, não. Gosto de ar. Tem mais a ver com o ato de respirar, sabe? [risos] Mas algumas das pessoas que amo fumam. Vamos colocar desse modo: odeio vícios, mas não odeio as pessoas que os têm. Não sou do tipo “fodam-se todos vocês, seus fumantes!” [risos] As pessoas têm uma idéia errada de mim. Acham que sou um radical que “prega” coisas. Não! Sou uma pessoa normal, que tem algumas opiniões. Isso não as faz corretas. E tenho necessidade de falar. Só isso.

LINK PARA VER A ENTREVISTA COMPLETA:
http://www.altnewspaper.com/


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